segunda-feira, 11 de abril de 2011

A IMPORTÂNCIA DA CRIATIVIDADE PARA A SOCIEDADE.




A IMPORTÂNCIA DA CRIATIVIDADE PARA A SOCIEDADE.

Eduardo Balbino Lopes


Resumo

                Com o crescimento e velocidade das mudanças na sociedade, o ser humano precisa desenvolver a capacidade de suportar o imprevisto e o improvável e para isto a criatividade é fundamental, uma vez que está dá ao homem a capacidade de unir rapidez com exatidão e leveza, apesar de ainda existirem falsos mitos a seu respeito o fenômeno criativo individual reflete a influência do coletivo, é obra do grupo, da dimensão social, onde ele, como agente, apenas exterioriza o desejo, necessidade ou pensamento oriundo e emergente da cultura. O artigo elucida o tema da criatividade apresentando algumas abordagens no estudo desta, dando ênfase, ao Modelo, de Csikszentmihalyi (Csikszentmihalyi apud ALENCAR e FLEITHLL, 1999).
Esse teórico atribui à produção criativa a um conjunto de fatores, que interagem de forma complexa, referentes tanto ao indivíduo quanto a variáveis sociais, culturais e históricas do ambiente onde este se encontra inserido que irão influenciar de forma marcante o processo criativo. Abordamos também a importância da criatividade no dia a dia das pessoas e como a educação tem papel importante para tal fenômeno.




Palavras-chave: criatividade; educação; desenvolvimento.





1. Introdução
            Dado o crescimento e velocidade das mudanças políticas, tecnológicas, econômicas e sociais, o ser humano precisa desenvolver a capacidade de suportar o imprevisto e o improvável, convivendo com as contradições e a nova ordem, que exigem um pensar e agir rápidos, de maneira exata, consciente e múltipla, uma capacidade de transformar a se mesmo e o que esta ao seu redor.
            Ao se configurar este cenário percebe-se, com clareza, que a criatividade é fundamental, uma vez que esta dá ao homem a capacidade de unir rapidez com exatidão e leveza, visibilidade com multiplicidade e consistência. Segundo Ostrower:
(...) Na nossa percepção, relacionamos contextos e componentes, reconhecemos seu conteúdo significativo e o reintegramos em novos contextos componentes, e assim por diante. Este principio estrutural dinâmico pode ser estendido a todos os processos criativos, artísticos e não artísticos. No fundo, então cada momento de percepção, e de compreensão, corresponde a um momento de criação. O ser humano é por natureza um ser criador. Não há outro caminho para se viver, aprender e procurar compreender o mundo a não ser criativamente. Já por esta razão – e não por qualquer sofisticação artificial – a criatividade deve ser vista como um comportamento natural e normal da pessoa. E mais, ela é um potencial cuja realização se torna uma necessidade interior, condição imprescindível ao amadurecimento e desenvolvimento em termos humanos. (Imagens da Transformação nº1,vol.1.Ostrower, Fayga,1994. pág. 24 e 25).

            Como podemos constatar, o ser humano é naturalmente criativo e o processo de captação do mundo ao nosso redor e a resposta que damos diante disto incluem no seu bojo a criatividade.
            Em nossa sociedade, ainda existe o falso mito de que a criatividade é algo apresentado apenas por gênios e artistas como uma característica inata e que, portanto, não pode ser ensinada ou aprendida; este conceito bloqueia e inibe um uso mais efetivo do nosso potencial para criar, desconsiderando-se que a mesma pode se manifestar nas mais diversas atividades e em qualquer área de atuação. Podemos constatar isso no desenvolvimento alcançado nas diversas áreas do conhecimento da nossa sociedade caracterizando um processo de aprendizagem e resposta rápidas com ganhos significativos para todos nos.
            Outra visão equivocada a respeito da criatividade é a de que alguns são considerados criativos e outros não, como se a criatividade fosse algo estanque e o ser humano não tivesse a capacidade de aprender, de crescer ou desenvolver suas habilidades e em principal essa: de poder dar respostas diferentes, inteligentes, e associativas a respeito de algo que seja solicitado ou se queira realizar.
            A idéia de que a criatividade depende apenas da inspiração do indivíduo também deve ser questionada, pois muitos outros fatores individuais, como o conhecimento, a preparação, o comprometimento, a dedicação, e a disponibilidade de tempo e de recursos contribuem para a produção criativa, além de outros dois fatores, como o ambiente de trabalho e o contexto sócio-histórico-cultural. A criatividade sofre uma influência forte das condições presentes no ambiente onde a pessoa trabalha: principalmente se as relações neste ambiente forem negativas ou desfavoráveis por algum motivo qualquer, portanto mesmo que tenhamos um potencial criativo grande, o meio onde estamos inseridos contribui decisivamente no bom uso ou mau uso dessa capacidade criadora.
            Não podemos esquecer a importância da educação em todo este processo, pois a consideração da criatividade como dependendo apenas de fatores do próprio indivíduo: suas habilidades de pensamento, seus atributos de personalidade e bagagem de conhecimentos são desenvolvidas e se fazem evidentes através dos processos de aprendizagem formais e não formais que estimulam a capacidade de criar. A educação é uma das ações que definem nossa humanidade: o ser humano transcende seu status animal, pois vai além dos instintos: compreende, reelabora, reflete, cria e recria, crítica, aprende, ensina. A busca do homem através da história é sempre uma busca de compreender e transformar a realidade. Ostrower afirma que:
É perfeitamente possível surgirem na existência individual, certas situações conflituosas, que haverão de impedir um crescimento natural. Nesses casos, a capacidade de vivenciar a vida, de formular novos contextos e intuir novos relacionamentos, fica por assim dizer estagnada ao nível do conflito, em conseqüência direta, a pessoa tampouco poderá crescer artisticamente. (Imagens da Transformação nº1,vol.1.Ostrower, Fayga,1994. pág 25).

            Baseado no que afirma Ostrower ratificamos a idéia de que o meio e o contexto sócio cultural interferem no desenvolvimento da capacidade que o ser humano tem para criar.
            A criatividade tem sido muito investigada a partir de modelos e metodologias centradas na pessoa e seus traços de personalidade, muitos acreditam que o processo criativo esta situado no pensamento do sujeito que cria.
            Uma nova abordagem do fenômeno criativo surge com alguns teóricos que defendem outra estrutura para a ocorrência do ato de criar. Entre eles, podemos citar Csikszentmihalyi quando argumenta:
Criatividade não ocorre dentro dos indivíduos, mas é resultado da interação entre os pensamentos do indivíduo e o contexto sócio-cultural. Criatividade deve ser compreendida não como um fenômeno individual, mas como um processo sistêmico'' Neste sentido, mais importante do que definir criatividade é investigar onde ela se encontra, ou seja, em que medida o ambiente social, cultural e histórico reconhece ou não uma produção criativa. Portanto, criatividade não é resultante do produto individual, mas de sistemas sociais que julgam esse produto (Csikszentmihalyi apud ALENCAR e FLEITHLL, 1999).

            Aqui o enfoque se diferencia, pois o autor vai ressaltar o vínculo entre o fenômeno criativo e a esfera sócio-histórico-cultural, ampliando a definição do conceito para além do individuo, para uma perspectiva onde o fenômeno individual da criação torna-se fator formador de cultura. Buscando compreendê-la a partir de uma nova dimensão que articula aspectos referentes ao campo social, ao domínio específico de cada campo social e ao indivíduo que organiza os dados herdados das instâncias anteriores.
            Criatividade passa a ser vista como um fenômeno social que só pode ser compreendida de forma contextualizada, inserida em seu momento histórico. As condições econômicas, materiais, sociais e culturais presentes no contexto irão influenciar de forma marcante o processo criativo.
            Criatividade é um fenômeno universal, uma função mental que é desenvolvida pelo sujeito a partir de suas experiências e contatos com a cultura. Vai ser determinada pela cultura e vai interferir nela dando novas respostas a essa organização social e cultural. Apresenta-se como evento complexo, multifacetado e distribuído em etapas diferenciadas do processo de desenvolvimento do homem e da sociedade humana.
            O processo de desenvolvimento da criatividade é determinado pelo contexto cultural ao qual pertence o sujeito agente do ato criativo. Sua expressão criativa individual reflete a influência do coletivo, é obra do grupo, da dimensão social, onde ele, como agente, apenas exteriorizou o desejo, necessidade ou pensamento oriundo e emergente da cultura.
            Criatividade é um recurso precioso de que dispomos e que necessita ser desenvolvido e melhor aproveitado, especialmente neste momento da História, marcado por mudanças, incertezas, turbulências, instabilidades e fortes pressões competitivas. A sua importância é de tal ordem que a criatividade tem sido inclusive apontada como habilidade de sobrevivência.
            Todos nos somos portadores da energia criativa. Alguns vão apresentá-la de forma grande; outros vão irradiar a mesma energia só que de maneira suave, discreta. A energia é a mesma, a capacidade também, apenas distribuídas de forma diferenciada.
            Se estivermos interessados em fazer uso de nosso potencial para criar, é necessário que cultivemos alguns traços, como flexibilidade, persistência, autoconfiança e abertura a novas experiências. É necessário também que cultivemos o hábito de buscar sempre por muitas idéias e soluções para qualquer problema, mantendo-nos abertos a muitas possibilidades e perspectivas, devemos também nos conscientizar dos bloqueios internos que nos impedem de um melhor aproveitamento de nosso potencial, deixando de lado muitas idéias inovadoras, além de manter bloqueado o nosso potencial parar criar e para inovar.
            A arte é um forte instrumento a ser utilizado no desenvolvimento de nossas capacidades criativas e criadoras, pois trabalha nosso lado sensível, amplia nossas percepções de mundo, e de quem somos, e sendo assim, precisamos mais do que nunca, da sua utilização no meio educacional e mais ainda na sociedade de modo em geral. Pois se temos consciência de que a educação é a base estrutural de uma sociedade plena, também temos consciência de que precisamos a cada dia mais de pessoas comprometidas com essa questão de uma educação conscientizadora para os indivíduos. Conscientizar no sentido completo e pleno da palavra. Mais do que dar condições aos indivíduos de vivência, de sobrevivência, dando a eles a oportunidade de serem quem realmente são com toda sua individualidade dignidade e peculiaridade desenvolvendo essa capacidade criativa que servirá para todos os momentos em sua vida.
            O que temos observado, contudo, é que a criatividade, recurso humano natural, tem sido severamente inibida por obstáculos de natureza emocional e social e por um sistema de ensino que tende a subestimar as capacidades criativas do aluno desde os primeiros anos de escola e a reduzi-la abaixo do nível de suas reais possibilidades.
            Os alunos que desde cedo mostram traços de criatividade não são reconhecidos por seus professores em sala de aula, e desta maneira são penalizados no sistema de ensino tradicional que valoriza prioritariamente a memorização que busca uma única resposta certa e não o pensar e o refletir a respeito dos diversos temas da vida.
            O sistema educacional não possibilita na sua maior parcela o desenvolvimento do potencial de cada aluno, desempenhando um papel inibidor no desenvolvimento das habilidades e talentos de cada sujeito, com suas normas rígidas, com falta de incentivo a novas idéias, ao ato de refletir e pensar, salientando a incompetência, a incapacidade e a ignorância do aluno, e não o que cada um tem de melhor, fazendo com que muitos internalizem uma visão limitada de seus próprios recursos, aptidões e habilidades. Isto fica claro em frases ditas por estes, como, por exemplo, "eu sei que não sou capaz de...", "eu não tenho a menor criatividade", "eu já nasci deste jeito e não adianta tentar", gerando um grande desperdício de talento e de potencial humano, fruto dessa visão pessimista dos recursos e possibilidades de cada um.
            O estudo de Siqueira (2001) foi feito para investigar esta hipótese, sendo utilizado como instrumento básico a escala de estilo de pensar e de criar. Alem das notas semestrais em diferentes disciplinas, seus resultados confirmam a hipótese inicial, demonstrando inclusive que as meninas criativas se adaptam mais facilmente em sala de aula, por apresentarem mais sensibilidade interna e externa como estilo criativo, que possibilita melhor rendimento acadêmico.
            A descrição deste estudo com alunos da escola normal visa mostrar como é importante o desenvolvimento do ser criativo desde tenra idade, e como este elemento torna esses alunos muito mais aptos para crescer nesta sociedade tão cheia de problemas e dissonâncias com muito mais aproveitamento de suas potencialidades.
            A arte nas escolas deveria cultivar a criatividade como também abrir espaço para uma contemplação estética, como possibilidade para um desenvolvimento estético completo da personalidade da criança e do adolescente.
            Lucille E. Hein (1973), chega a atribuir o processo de criação como parte do desenvolvimento natural das crianças, dispensando qualquer aspecto sociocultural envolvido nas produções infantis. Tudo está centrado nas oportunidades, nas condições de produção (e neste ângulo crítica severamente as escolas alegando que atrofiam a criatividade das crianças maiores). Reforça que a criança de três a seis anos, “por ainda não estar sujeita à conformidade e uniformidade que impõem os anos escolares”, (Como Entretener a Los Niños. Lucille E. Hein, 1973), deve ter sua capacidade criadora valorizada a fim de experimentar, criar, idealizar, improvisar, ser original e manejar suas idéias com liberdade. Defende explicitamente a relação: “quanto maior oportunidade tiver de manipular e utilizar materiais diversos em suas atividades de arte e de trabalho manual” (Como Entretener a Los Niños. Lucille E. Hein, 1973), mais desenvolverá suas faculdades criativas.
            Contudo, convêm lembrar que o espontâneo não se identifica com o impensado, mas sim com o imaginário e o intuitivo que amplia o poder de sermos livres para criar, buscando o novo e o original através do pensar, repensar, redimensionar a realidade em todos os instantes.
            O desafio é superar concepções tecnicistas e utilitaristas, mas também de ir além do “deixar fazer” e da livre expressão apenas, para reconhecer que a arte tem características próprias que devem ser mais bem conhecidas pelos educadores, que tem objetivos próprios e seus próprios métodos. Os educadores precisam aprender mais para ensinar melhor. Cada um de nós deverá ser um construtor de conhecimentos e um semeador de idéias e práticas que darão frutos no futuro.
            Sua sensibilidade para com as experiências perceptivas, adquiridas através da observação, do ouvido, do tato, tanto como a descoberta da beleza contribuirá muito para o enriquecimento de sua vida. Acima de tudo, em qualquer fase de sua existência, a criança utilizará o seu próprio enfoque inventivo e criador, ou dependerá da imitação dos padrões estabelecidos. Não devemos esquecer que o que torna um profissional independente de sua área de atuação bem sucedido na vida é o seu poder de invenção, o qual transforma sua profissão em fonte inesgotável de descobertas e de mudanças. Qualquer que seja a profissão escolhida pela criança no futuro, ela precisará sempre da atitude criadora que alcançou por intermédio dos estímulos recebidos em sua educação.
            A função estética, poética e social do ato criador seria um remédio ou uma terapia contra a complicação da vida de uma forma geral, ajudando a recompor o mundo subjetivo e facilitando a interação entre a criatividade individual e a coletiva, facilitando as relações sociais.


Referências:

HEIN, Lucille A. Como entretener a los niños. México: Diana, 1973.
LOWENFELD, Viktor. A criança e sua arte. São Paulo: Mestre Jou, 1977.
MARIA, Luzia de. Drummond Um olhar amoroso. Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial, 2002.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia - Saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz eTerra S/A, 1996
AMABILE, T.M. The social psychology of creativity. N.York: Springer, 1983.
AMABILE, T.M. & Hennessey, B.A.. Creativity and learning. Washington,
D.C.: National Education Association, 1987.
EUNICE M. L. Soriano de Alencar; DENISE de Souza Fleith. Contribuições teóricas recentes ao estudo da criatividade. In: Psicologia Teoria e Pesquisa. Vol.19. Nº.1, Brasília. Site Scielo, Jan./Apr. 2003.
OSTROWER, Fayga. Loucura e criatividade. In imagens da transformação. nº 1, volº1, outubro de 1994.
SIQUEIRA, L.G.G. Estilos de criar e desempenho escolar. Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade Católica de Campinas. 2001.





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